Música - Volta de Cuba
Atualizado: 8 de Jun de 2020

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Volta de Cuba
Você me disse
Pra eu não me preocupar
Que era só um mês e
Não demoraria pra passar
Mas não consigo
Um jeito pra falar
Lá não tem Streaming
Internet ou sinal de celular
Volta de Cuba e vem pra cá
Deixa o charuto pra lá
Sei que o Che não vai gostar
Volta pra gente gastar
Ouvi dizer
Que a saúde é a melhor
Mas ficar sem Hollywood
E videogame é muito pior
Mas não me preocupo
Pois sei que vai mudar
Quando você voltar
Tenho certeza em quem irá votar
Volta de Cuba e vem pra cá
Deixa o charuto pra lá
Sei que o Che não vai gostar
Volta pra gente gastar
Volta pra gente gastar!
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Essa é a música mais improvável que “compus” até agora. As aspas estão ali
porque na absurda realidade essa música não foi composta, mas sim
expelida do fundo do meu cérebro. Minha esposa, Ana Clara, namorada na
época, foi para Cuba estudar o sistema público de saúde e, como já era
previsto, mal conseguíamos nos falar. Pelo que ela relata, era necessário
embarcar numa odisseia melindrosa para conseguir encontrar sinal de
internet para finalmente conversarmos por míseros cinco minutos. Do lado de
cá, do nosso amado Brasil, meu sinal de internet era quase infinito, mas de
nada adiantava as 13.666 mensagens que enviava, porque eu não obteria
respostas tão cedo. Andar de um lado para o outro com suadeira, enviar
inúmeras mensagens por minuto e pensar em possíveis tragédias horrendas
pode parecer algo exagerado, mas quem sofre de ansiedade vai me
entender.
Quando eu notei que já havia contado todas as novidades possíveis em
infinitas mensagens em que eu praticamente descrevia a história da
humanidade inteira, nada mais eu podia fazer a não ser esperar. Já que
esperar não existe no vocabulário de uma pessoa ansiosa, peguei meu violão
e em alguns poucos minutos eu vomitei a música “Volta de Cuba” com
melodia e tudo num único áudio de WhatsApp.
A Ana Clara me conta que riu bastante e que suas amigas que a
acompanhavam na viagem também adoraram. Fiquei feliz, mas não liguei
muito pra música, já que era apenas uma brincadeira momentânea. O fato de
eu não ter ligado pra música foi tão real que eu nunca consegui resgatar o
áudio original e ele se perdeu no tempo-espaço. Acho que o Zuckerberg é o
único que pode recuperá-la, mas não faço acordos com ciborgues. Já era.
Algum tempo se passou. Toda vez que eu pegava no violão, tocava a música,
já que é ridiculamente fácil e grudenta. Toquei algumas vezes em
aniversários e eventos familiares e todos sempre riam e curtiam. Com
aprovação eu vou às alturas!
Quando resolvi gravá-la, percebi que não estava registrando somente uma
música, mas também a lembrança de um momento e de uma viagem que
representa muito mais do que conto aqui e que jamais será esquecida. É
exatamente por isso que eu nunca ousei modificar a letra dessa música,
mesmo com muita vontade de adicionar alguns momentos importantes e
algumas passagens mais engraçadas (como o fato de Cuba ser uma grande
festa junina, já que os turistas precisam de uma moeda exclusiva para que
possam comprar qualquer coisa, algo muito parecido com adquirir fichas para
usar em barraquinhas). Algumas coisas acontecem simplesmente porque
acontecem, e nossa tarefa às vezes é apenas ressignificar momentos que
pareciam intocáveis em nossas memórias, extraindo delas o que há de
melhor.
Muitos achavam, por conta do nome, que essa música teria cunho político e
que provavelmente eu detonaria algum partido político vermelho. De fato, há
algumas passagens políticas, mas nada do que foi escrito tinha algum
objetivo se não divertir minha esposa que estava a milhares de quilômetros
de distância. Se a música tivesse nascido hoje, provavelmente estaria
recheada de alfinetas como as que eu inseri na ilustração completa da capa
de “Volta de Cuba”. Interpretem como quiser!
